Conto de fadas sangrento tenta virar franquia, mas quem vai querer comprar um sub-Van Helsing?
Por Marcelo Hessel - omelete.com
![João e Maria - Caçadores de Bruxas](http://omelete.uol.com.br/static/uploads/fichatecnica/joao-e-maria-poster.jpg)
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![joão e maria](http://omelete.uol.com.br/static/uploads/conteudo/fotos/joao-e-maria-2.jpg)
Não convém aqui discutir se foi uma boa estratégia ou se a violência cartunesca misturada com fábula infantil vai cair num vácuo demográfico (o filme pode ser impróprio para pré-adolescentes e considerado bobo por adolescentes). A questão é que a surpresa de ver astros como Jeremy Renner e Gemma Arterton besuntados de sangue falso é a única atração deste filme - que, de resto, é um grande equívoco de concepção e execução.
Na comparação, João e Maria - Caçadores de Bruxas faz Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros parecer muito sofisticado. O parentesco mais próximo é com Van Helsing, não só porque as armas e os figurinos parecem reaproveitados do filme de 2004 (quando teremos um blockbuster sem vergonha de se assumir steampunk?), mas principalmente porque ambos tentam contar uma história medieval com uma linguagem pop e terminam num indeciso meio termo, descaracterizando tudo.
Van Helsing pelo menos não tinha a intenção - que hoje Hollywood trata como obrigação - de estabelecer uma nova franquia de ação. Desde o início João e Maria - Caçadores de Bruxas é apresentado e martelado como um produto que vieram nos oferecer na nossa porta, que o vendedor diz ser irrecusável mas não se presta a explicar pra que serve ou como funciona.
Quinze anos depois de sobreviverem à casa de doces, João/Hansel (Jeremy Renner) e Maria/Gretel (Gemma Arterton) ganham a vida como matadores de aluguel, indo de vila em vila atrás das tais bruxas. Produtos que são, seus diferenciais são a inovação (a vila do filme já tem um caçador de bruxas, mas incompetente e vil) e o ineditismo (ninguém da vila ouviu falar de João e Maria, embora o lugar seja perto de onde os irmãos cresceram e nos créditos iniciais a notícia dos dois tenha se espalhado).
Além da inovação e do ineditismo, todo produto de franquia implica uma legião pronta de fãs (não vendida separadamente). Então depois que a fama e o talento de João e Maria são repetidos pela décima vez em meia hora de filme, surge um fanboy adolescente medieval pra afirmar tudo de novo e emendar: "I'm a fan of your work!". Depois disso, dá até pra se divertir com algumas coisas que acontecem no clímax (a galeria de bruxas é bem politicamente incorreta), se você aguentar até o fim do filme.
Talvez um dia João e Maria - Caçadores de Bruxas seja visto como uma transgressora obra de arte que implode a lógica das franquias hollywoodianas ao revelar parodicamente suas entranhas, uma bomba de metalinguagem que deixa estilhaços e vísceras por todos os lados. Até lá, é só um filme com a ilusão de que pode imitar Os Vingadores (a superequipe com suas armas viradas pra câmera no final), o modelo de franquia hoje, como se ninguém fosse perceber.