O negócio é o seguinte: não adianta vir nos comentários dizendo que essa é uma lista injusta porque você e todos os que você conhece
viram estes filmes. Os números das bilheterias não mentem. E, enquanto
produções ruins, como “E aí… Comeu?” e “A Saga Crepúsculo – Amanhecer:
Parte 2”, fizeram números enormes, estes estrearam em poucas salas e
atraíram poucas pessoas.
Segue a lista da vergonha, com os 12 melhores filmes deste ano que fizeram baixa bilheteria, por mês.
Janeiro - “O Espião que Sabia Demais”
Tomas
Alfredson reuniu o dream team do cinema britânico, contando com Gary
Oldman, Toby Jones, Mark Strong, Benedict Cumberbatch, Tom Hardy e Colin
Firth, para uma ótima história de espionagem e traições. A fotografia
pastel e o clima soturno e sério, sem concessões ou alívios cômicos
desnecessários, deram o tom de um dos melhores lançamentos do ano. E
talvez dos próximos também.
Felizmente, o custo de produção foi baixo o suficiente para que a equipe conseguisse justificar uma continuação.
Fevereiro – “Drive”
O
trailer vendia um filme cheio de perseguições e adrenalina. Mas ao
invés de vermos um longa em que um piloto de fugas faz manobras insanas,
como “Velozes e Furiosos”, vimos este mesmo piloto tentando domar seu
ímpeto de violência ao mesmo tempo em que se apaixona, lenta e
lindamente, por uma vizinha. Tudo com uma ótima trilha oitentista.
Março – “Shame”
Michael
Fassbender, o ator do ano, interpreta um homem que luta contra sua
compulsão sexual. Sua vida, relativamente discreta, acaba de pernas para
o ar quando sua irmã aparece para uma visitinha. E dá-lhe cenas de
masturbação e sexo (entrecortadas com algumas corridas noturnas, para
extravasar). Filme dos mais honestos sobre um tema relativamente pouco
explorado.
Abril – “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios”
Se a bela
direção de atores de Beto Brant, ou a fotografia do norte do país, ou o
texto original de Marçal Aquino não conseguiram atrair público, era de
se imaginar, pelo menos, que as intensas cenas de sexo entre Camila
Pitanga e Gustavo Machado o fizessem. Nada nisso. Estreia em circuito
limitado e pouca bilheteria para um dos melhores filmes nacionais do
ano.
Maio – “Flores do Oriente”
Nem
a presença de Christian Bale, o Batman em pessoa, levou as pessoas para
o cinema, para a triste história de um ocidental que acaba ajudando um
grupo de mulheres no meio do massacre de Nanquim. Pese que a direção é
de Zhang Yimou, dos belíssimos “Herói” e “O Clã das Adagas Voadoras”.
Junho – “O Deus da Carnificina”
Roman
Polanski faz, aqui, seu melhor filme desde “O Pianista” (mesmo
colocando na conta o ótimo thriller “O Escritor Fantasma”). Neste, dois
casais, John C. Reilly e Jodie Foster e Christopher Waltz e Kate
Winslet, discutem, cada vez de forma menos amistosa, sobre um incidente
envolvendo seus filhos. Aos poucos toda a hipocrisia da civilização
ocidental começa a ruir.
Julho – “Na Estrada”
Aparentemente,
há uma relação inversamente proporcional entre a qualidade do trabalho
de Kristen Stewart e bilheteria. Só isso justifica que seu olhar branco
em “Crepúsculo” e “Branca de Neve e o Caçador” tenha rendido tanto e seu
esforço sincero como Marylou em “Na Estrada” tão pouco. Fora as
atuações apaixonadas de Garrett Hedlung e Sam Riley na adaptação do
texto clássico de Jack Kerouak dirigida pelo brasileiro Walter Salles.
Junho – “À Beira do Caminho”
Mensagens
de parachoques de caminhão, músicas do Roberto Carlos e uma relação
entre pai e filho inesperada são os ingredientes para esse belo
trabalho de Breno Silveira. Como é um filme nacional que carrega nos
dramas, evitando o humor fácil, era esperado mesmo a baixa adesão do
público brasileiro.
Setembro – “Cosmópolis”
Nem
a presença de Robert Pattinson atraiu o público. O que era de se
esperar, já que o filme é dirigido por David Cronenberg, baseado no
livro homônimo de Don DeLillo, que critica tanto o modo de acumulação de
capital insano (em que gente não produz nada e consegue ficar
milionário), quanto as nossas hipocrisias.
Outubro – “Moorise Kingdom”
Sem
filmar nada desde “O Fantástico Senhor Raposo”, Wes Anderson voltou com
tudo este ano, contando a história de amor entre duas crianças que
acabam fugindo para viver sua “Lagoa
Azul” particular. No elenco, seus comparsas de sempre, como Bill Murray
e Jason Schwartzman, além de novos companheiros como Bruce Willis e
Edward Norton. Tudo com as lindas cores e trilhas sonoras que só
Anderson consegue colocar em um filme.
Novembro – “Holy Motors”
Dizem
que críticos respeitáveis, em Cannes, depois de uma ovação de dez
minutos a Leo Carax e seu “Holy Motors”, admitiram não ter entendido
nada, mas que se sentiram profundamente tocados pelo filme. Esse tipo de
honestidade, vinda de um crítico, figura tipicamente arrogante em
relação a suas ideias, já vale o filme. Sua estrutura fragmentada, com
um personagem que assume várias existências ao longo de sua trajetória, o
justificam.
Dezembro – “O Impossível”
Na
última semana do ano, estreou o belo e triste “O Impossível”, que
acabou eclipsado por “O Hobbit” e “As Aventuras de Pi”. Pelo menos,
neste caso, os outros dois filmes são bons. Ainda assim, a história real
da família que resistiu ao tsunami na Tailândia, e que lutou para
sobreviver e se reencontrar no caos instaurado pela fúria da natureza, é
um dos filmes mais urgentes e necessários da temporada.